Paciente: Sexo feminino. Vinte anos.
Estresse pós-traumático. Alucinações visuais.
Avistamentos de um vulto, o "homem grande".
Cartas de tarô, de origem desconhecida.
Muda.
Mora só.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Entrevista: Giulia de Cesero e Isabela Boessio, figurinistas

O figurino e a maquiangem de Kassandra foram feitos a quatro mãos. No caso, as mãos de duas estudantes de moda: Isabela Boessio (na foto, à esquerda) e Giulia De Cesero.

A dupla era responsável pelo visual dos personagens e tinha a missão de deixá-los marcantes, já que eles não podem ser identificados pela sua voz (quase nenhum deles fala). Além disso, outro desafio na caracterização era a ausência de cores. Confira como foi o trabalho das duas:


Isabela, comente como foi a concepção visual de cada um dos personagens do filme. Como foram feitas as escolhas das cores, das peças, o que cada figurino deveria passar? Conte como foi o processo.

Isabela: O desafio na realização do figurino foi o fato de o filme ser em preto e branco. Não precisamos pensar em combinações de diferentes cores, mas, sim, no contraste entre elas! Aconteceu, inclusive, de escolhermos uma blusa azul marinho pensando que fosse se transformar em preto, mas que acabou parecendo mais viva ainda!

Começando por Kassandra: optamos por uma camisola lisa, como se fosse de hospital, mesmo, para que ela usasse durante todo o filme. Como a personagem é apática e sua última preocupação é a roupa que veste, seu figurino deveria representar esse desleixo. Apesar disso, Kassandra tem, sim, um “teor” sexual. Ajustamos levemente a cintura e diminuímos o comprimento da camisola para que as formas de seu corpo tivessem espaço na cena. Escolhemos uma cor bem clara para contrastar com seu cabelo castanho escuro.

O terapeuta ganhou um visual mais certinho; camisas abotoadas e para dentro da calça, cinto, sapatos. Ele precisava de uma aparência limpa, clara, que passasse segurança, cuidado e preocupação para com a sua paciente.

O figurino do Homem Grande foi o mais simples de fazer! Moletom, calça e botinas, todos pretos e mal cuidados (para não usar a palavra “trapos”). Em compensação, nos focamos na maquiagem para deixá-lo bastante obscuro (pele clara contrastando com olheiras profundas, rugas marcadas...).

O vizinho de Kassandra foi, certamente, o mais divertido. Look cafajeste/bagaceiro: camisa velha, aberta e suada, cueca branca e velha, meias. Cabelo e pele oleosos para deixar a figura um pouquinho mais repugnante.

Fizemos a prostituta ser do tipo que se produz, que está com tudo em cima. Vestido tomara que caia curto, mas não obsceno, botas de cano curto e salto alto, muitos acessórios, batom vermelho (que no filme aparece como um cinza chumbo) e delineador bem marcado.

Da esq para dir: Kassandra, o terapeuta, o Homem Grande, o vizinho, a prostituta

Giulia, além de figurinistas, você e Isabela acumularm a função de maquiadoras. Como foi a concepção da maquiagem para cada personagem?

Giulia: Os makes feitos nas personagens devem agradecimentos aos Halloweens que já passei (risos)! Não que o filme tenha ligação com isso, mas o fato de ele ser preto e branco fez com trabalhássemos com tons muito claros e tons muito escuros. Optamos por um rosto bem claro, puxando para o branco, e detalhes em preto e marrom. Achávamos que seria difícil encontrarmos um make que se encaixasse com Kassandra, mas o roteiro e toda a produção estava bem clara e definida que todo mundo conseguiu entrar no clima e tudo fechou perfeitamente.

Vocês estudam moda, mas elaborar um figurino, especialmente para um filme sem cores, deve ser bastante diferente de criar looks para o "mundo real", por assim dizer. Qual a dificuldade de transitar da moda para o figurino de um filme?

Isabela: Na vida real, nem sempre temos um estilo super definido e limitado. Conforme o nosso humor, a ocasião, as nossas vontades, escolhemos vestir cores e tipos diferentes de roupa. Todas essas oscilações representam o que somos e o que queremos transmitir aos outros, certo? Trabalhando com o figurino de uma personagem, as características desta devem estar muito bem definidas para que o espectador capte a mensagem correta. Se houver muita variação, a mensagem pode se tornar confusa. Além disso, um figurino que segue fiel ao que precisa representar no decorrer das cenas fortalece os papéis do filme e facilita uma identificação por parte do espectador com as personagens. No caso de Kassandra, não tivemos o recurso "cor" para agregar significado às roupas, portanto a responsabilidade caiu toda em cima das modelagens, acessórios, detalhes, estilos das peças e maquiagem. E na atuação dos nossos talentosos atores, claro!

Qual a importância para estudantes de moda participarem de uma produção audiovisual trabalhando no figurino?

Giulia: É uma experiência incrível, pois muito se aprende sobre isso na prática. Há muitos "não faça" quando o assunto é filmar roupas, como, por exemplo, não use listras muito próximas, mas cada caso é um caso. No caso de Kassandra, envolvia todo um tema, toda uma atmosfera que eu nunca tinha pensado antes, foi um desafio achar os figurinos certos para cada personagem, um desafio bem bom!

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