Paciente: Sexo feminino. Vinte anos.
Estresse pós-traumático. Alucinações visuais.
Avistamentos de um vulto, o "homem grande".
Cartas de tarô, de origem desconhecida.
Muda.
Mora só.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Entrevista: Roger Monteiro, roteirista

A partir de hoje, o blog de Kassandra publica entrevistas com elenco e equipe do filme, semanalmente. Trechos destas entrevistas vão constar no material de divulgação, mas aqui elas podem ser lidas na íntegra.

O primeiro a falar é o roteirista Roger Monteiro, que trabalhou em cima do argumento de Ulisses da Motta Costa para criar o texto do curta. Foram três tratamentos do roteiro, que tinha um total de 12 páginas. 

Confira o que tem a dizer o homem das palavras num filme praticamente mudo (e leia aqui as primeiras impressões do próprio Roger sobre o projeto de Kassandra).



O que levou um designer a escrever um roteiro? Como chegaram em você?

Roger: Design, fotografia, literatura, cinema… No fim do dia são apenas ferramentas diferentes para se contar histórias. A faísca que você precisa despertar é a mesma. A conexão que você precisa estabelecer, não muda. E isso se sobrepõe à técnica. Gosto de pensar que esse projeto veio parar nas minhas mãos por uma certa curiosidade mórbida do diretor. Creio que só isso já seja um mérito dos idealizadores de Kassandra: assumir o risco. Não se destila relevância das velhas fórmulas à prova de erros.

Você comentou que recebeu o convite para adaptar o argumento com ceticismo, por achar que inicialmente a proposta da obra estava muito distante do seu universo de interesses. O que no fim das contas Kassandra tinha que a fez se aproximar deste universo?

Roger: Nunca tive qualquer interesse pelo gênero que o senso comum chama terror. Cemitérios indígenas, zumbis e rainhas do grito não fizeram parte do meu imaginário adolescente e não seria supresa se eu confundisse, na rua, Jason com Kruger. Dificilmente eu poderia me ver contribuindo para uma narrativa ambientada nesse universo. Mas aconteceu de o Ulisses da Motta Costa ser um tremendo mentiroso. Por mais que ele queira, Kassandra não trata do terror, ou do horror. A garota na camisola etérea é uma heroína romântica, na acepção mais acadêmica da palavra. Por trás do elemento fantástico não está o grito, mas a solidão. A solidão profunda de uma criança que não se apartou apenas do mundo, mas de si mesma. E com isso eu podia me conectar.

Qual era a sua maior preocupação na hora de elaborar as cenas e os diálogos? Como foi transpôr as ideias do argumento para o formato de roteiro?

Roger: Pode-se imaginar que, em uma estrutura narrativa desse tipo, a maior dificuldade seja a ausência do verbo. É claro que isso é um obstáculo a ser transposto, mas, por outro lado, acaba se tornando uma pedra fundamental para uma estética própria. O silêncio, em Kassandra, não é uma circunstância, ele é uma personagem tão importante quanto qualquer outra. Dar a ele esse caráter e transformá-lo no porta-voz da angústia que desejávamos foi o foco. Se fosse possível tornar o silêncio sufocante, a história se desenvolveria por si só; se não fosse, tudo mais fracassaria.

Você elaborou um roteiro mais literário, com um certo grau de subjetividade na escrita. Isso foi proposital para passar alguma informação mais sutil, ou é uma questão de estilo?

Roger: Uma vez que trata de escolhas, toda escrita é subjetiva, expressa um ponto de vista, uma visão de mundo, a forma como o escritor consegue recombinar as suas referências e projetá-las sobre o tema. Mesmo quando se propõe a ser objetivo, quem escreve ainda está expressando a sua concepção própria de objetividade. Portanto, ser subjetivo é fundamental para o ato criativo, porque implica em comprometer-se. Comprometer-se é acreditar. Quando você não consegue convencer a si mesmo, não consegue convencer o público. E quando não consegue convencer o público, você o perde.

Do que você já viu do material pronto, alguma coisa superou as suas expectativas? 

Roger: Não existe Renata, existe Kassandra.


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