Paciente: Sexo feminino. Vinte anos.
Estresse pós-traumático. Alucinações visuais.
Avistamentos de um vulto, o "homem grande".
Cartas de tarô, de origem desconhecida.
Muda.
Mora só.

domingo, 29 de julho de 2012

Um carioca em Kassandra


Victor Hugo Fiuza viveu uma experiência curiosa em Kassandra. Estudante de cinema na PUC-RJ e carioca da gema, foi convidado pelo diretor Ulisses da Motta Costa para vir ao Rio Grande do Sul ser assistente de direção. Ambos se conheceram no Festival de Gramado em 2009, quando fizeram parte do Júri Popular.

Além de ter trabalhado como primeiro assistente de direção durante as filmagens, Victor também assumiu a direção de fotografia adicional na terceira diária, devido a compromissos profissionais de Pablo Chasseraux -- o que só aumentou a resposabilidade e a importância dele dentro da equipe.

A seguir, as impressões do próprio Victor nos dias em que passou filmando em terras gaúchas. 


A Experiência de fazer Kassandra


Quando meu avião decolou de Porto Alegre, sentido Rio de Janeiro, a minha sensação era de deixar um território especialmente familiar para mim. Da janela, eu não via só uma paisagem que se afastava, perdendo sua definição; via elementos tão aleatórios quanto o chimarrão, uma cerveja Polar e a expressão “Bah”, agora tão próximos de mim, se afastando. Via lugares e principalmente, pessoas. Esse é um dos estranhos poderes do cinema: te permitir entrar em um lugar sem nenhuma fronteira do tempo (e sua duração), com uma intensidade muitas vezes fora de controle. O cinema é uma fábrica de laços. 

Sou do tipo de pessoa que acredita que uma câmera cinematográfica capta muito mais que aquilo que é encenado diante dela. Ela é capaz de captar seu entorno; a atmosfera que a envolve. Não creio que apenas os atores construam cada plano do filme; acho que dentro de cada imagem, estão as aspirações e sentimentos de toda uma equipe de pessoas. Nesse sentido, estou quase convicto em dizer que Kassandra será um filme invariavelmente especial, posto que o que se conseguiu construir em termos de relações humanas em direção e em torno do filme, foi de uma beleza realmente artística. 

Tudo isso não se trata apenas de uma competência técnica dos membros da equipe e do brilhante elenco, mas principalmente da capacidade de doação e de relacionamento interpessoal que envolveu o filme. Se ao descobrir que teríamos um número acima da média de planos por dia (geralmente são 15; fizemos mais que o dobro disso diariamente) e que teria bons motivos pra me preocupar (já que isso tornaria a filmagem muito mais difícil e complexa, além de arriscada, e meu trabalho envolve diretamente a gerência dessas questões no set), foi somente essa condição de equipe e elenco que permitiu a concretização de Kassandra de uma maneira profundamente eficaz. Isso não é tão comum, seja em curtas, longas ou na TV. 



Mérito do poder invejável de decisão e controle do diretor Ulisses da Motta Costa, que sempre soube como conduzir não só aquilo que deveria se apresentar diante da câmera (ou seja, a encenação do filme), mas também o grupo que estava por detrás dela; a agilidade nunca comprometedora da fotografia de Pablo Chasserraux e sua equipe, sempre acalcando resultados surpreendentes; Ramona Barcellos e Roberto Coutinho (produção), por simplesmente terem cuidado de tudo e de todos nós; Ana Gusson, a diretora de arte, que torna impossível um set não ser agradável – além de estar, mesmo com todos os cenários prontos, sempre por perto; à Marina Cardozo, muito mais que uma continuísta; ao elenco, nunca menos que preparado e excepcional (Kassandra conta realmente com grandes atores – e eu gostaria de fazer uma menção especial à Renata Stein, a Kassandra do título, uma atriz jovem assustadoramente madura e talentosa); em suma, graças a todos. 

Acho que as pessoas podem esperar de Kassandra um filme que, além de cumprir seus méritos cinematográficos por si só, também fale sobre um tipo de cinema importante de ser feito e que deve ser valorizado, inclusive remetendo, regionalismos à parte, ao próprio cinema gaúcho (seja o de outrora, o do agora ou o do porvir). 

Da minha parte, fica uma certa saudade e uma vontade de novas produções no Rio Grande do Sul. Principalmente se for para trabalhar com pessoas como essas que fizeram e fazem Kassandra

Obrigado. 

Victor Hugo Fiuza (primeiro assistente de direção)

PS: Gostaria de agradecer especialmente ao eletricista Jô, pela ajuda especial que ele deu a mim no nosso terceiro dia de filmagens.

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